Mértola: III Festival Islâmico 2005 05-2005
autor: Casimira Matos exposição colectiva

Mértola: III Festival Islâmico 2005

05-2005

Entre o rio Guadiana e a ribeira de Oeiras, Mértola são três vilas de cal e sol. Uma dentro de muralhas e duas fora. A mais antiga, construída ao longo da muralha do castelo, é a que fala mais alto sobre as origens da terra e a menos habitada. As duas mais recentes, são a parte nova da vila. Uma dotada de infra-estruturas turísticas, restaurantes e novas habitações. A outra, a margem do celeiro do lado esquerdo do Guadiana.

Mértola é uma vila branca adormecida. Os seus maiores problemas são aqueles de todo o Alentejo: analfabetismo, população envelhecida, desertificação, e este ano a seca. A terra rasga-se por água, a pedir que nela metam as mãos e lhe sintam a temperatura.

Este sempre foi um ponto de chegadas e partidas. Durante séculos, todas as civilizações que por aqui passaram deixaram-lhe marcas, e mais tarde partiram. Desde o seu nome, à traça das casas, aos hábitos comerciais e gastronómicos Mértola nunca foi uma só, mas sim um abraço de civilizações que ou chegavam por terra, ou subiam o rio grande do Sul. Ou partiam para o mar, ou fugiam para Espanha.

Foi com os muçulmanos que Mértola atingiu o seu esplendor, ao ser capital da Taifa e um dos maiores portos comerciais fluviais, entre a Peninsula Ibérica e o Norte de África. As marcas islâmicas ficaram-lhe nas janelas das casas, na gastronomia, na mesquita transformada em igreja, mas ainda com o altar apontando Meca, e nos vestígios arqueológicos que teimam em ver a luz do dia.

Todos os anos ímpares Mértola celebra as suas raízes islâmicas e o período aúreo que já foi seu, e deixa a cor, a música, a dança, o cheiro e o ulular dos berberes no Souk invadirem-na mansamente. A pacata vila durante dias é cosmopolita.

Come-se cuzcuz e caracóis, bebe-se chá de menta e minis. Compram-se compotas alentejanas e perfumes exóticos. Reza-se a Bíblia e o Corão. Mértola espreguiça-se ao sol e ri...à noite dança num lenço árabe, ou num tornozelo mais tisnado.

Chega gente de todo o país e de outras terras para ver o Norte de África em terras alentejanas...Mértola parece uma criança que brinca...ele sempre ali esteve!

Texto: Sofia Quintas