Fotografias 94-05
autor: Pedro Loureiro autor convidado

Fotografias 94-05

As fotografias de Pedro Loureiro são mais do que fotografias jornalísticas. As suas imagens filiam-se na linha de significativos fotógrafos que usam a camera como um substituto da escrita.

Assim a fotografia adquire espessura documental e ganha uma expressão tão significativa como o texto: abrimos uma revista ou jornal e encontramos uma página cheia com uma imagem, sem texto ("O Independente", na década de 90 ou a "Grande Reportagem"), e somos transportados para um cenário de violência urbana (um emigrante português, armado, no seu supermercado de Joanesburgo ? "Joanesburgo #5"- ; a agressividade em potência, a capacidade militarista do homem, capaz de se defender, e enfim, o inusitado de alguém armado a dirigir um espaço de que dependemos para sobreviver na grande cidade); ou para a presença de uma família, em Cabo Verde ("Baía das Gatas" - a ausência da mulher/mãe é fulcral na significação daquele universo); para uma rua de Macau, onde uma avó protege o neto, com o seu abraço (a família nuclear chinesa depende, absolutamente, dos avós: substitutos dos pais durante os primeiros anos da criança) ou para o quotidiano dependente de Luiz Pacheco, onde a irreverência do escritor é reforçada pela postura mimética e cúmplice da funcionária que, porventura, o trata.

Quando a fotografia tem a capacidade de construir leituras particulares de determinado universo, através da depuração visual e do enfoque em pormenores pregnantes, estamos perante um discurso autónomo, para a fotografia como expressão e para o documentalismo como espaço de aprendizagem.

Outra particularidade destas imagens é o cuidado colocado no desenho dos contextos, carregados de informação sociológica sem desvalorizar a plasticidade da imagem, o que acentua a singularidade de cada um dos personagens que Pedro Loureiro regista. São pessoas, mas tornam-se personagens, porque sentimos que cada um pertence a universos capazes de conterem narrativas pessoais, quase sempre protagonistas de dramas ou tragédias de interesse universal. A realização destas imagens é feita com a cumplicidade dos retratados, trazendo para a fotografia documental o carácter ético que tem vindo a perder em favor da massificação das imagens, na imprensa.

Texto: José Maçãs de Carvalho, 2006