Guardiões da Paisagem 20-10-2002
autor: Sofia Quintas exposição individual

Guardiões da Paisagem

20-10-2002

Moinhos de Sta. Maria - Malveira

Os primeiros moinhos de vento foram construídos provavelmente na Pérsia, e o seu sistema, mais tarde aproveitado pelos Árabes, foi trazido para a Europa pelos Cruzados no seguimento das suas incursões ao Oriente.
No Continente Europeu o moinho de vento foi sofrendo adaptações e alterações, variáveis de região para região consoante as características geográficas e as características culturais de cada povo.
A sua propagação pela Europa ocorreu entre os séculos XI e XIII mas em Portugal a primeira referência histórica à sua existência data do século XIV.

Com o advento da Revolução Industrial e a ideia de aplicar a máquina à moagem, iniciou-se a decadência dos moinhos de vento.
Todo o processo de industrialização então iniciado levou incontestavelmente a uma mutação da vida rural e os moinhos deixaram de dar resposta às exigências da sociedade de então. Mas outras causas se lhe juntaram: ruptura do modelo fechado da sociedade campesina, o prestígio e a sedução das novas maquinarias e também a quebra de uma disciplina social que levava à valorização da moagem como actividade de grupo.

Os moinhos de vento estão impregnados de uma carga simbólica e religiosa que se reflecte inevitavelmente na figura do moleiro. A integração dos moinhos na paisagem ? com a necessária localização elevada para um melhor aproveitamento da força do vento ? é um factor decisivo para transformá-los em silhuetas quase sobrenaturais, numa combinação de misticismo fantástico com veneração divina: o funcionamento dos moinhos depende do sopro de Deus.

Por outro lado, a localização dos moinhos obriga ao afastamento geográfico do moleiro da restante população, associando-lhe, quase automaticamente, uma carga de mistério. Mistério esse acentuado pelos complexos conhecimentos que o moleiro necessitava de ter para executar o seu ofício, e que se esforçava por manter secretos, de modo a garantir a dependência que a população tinha do seu trabalho. A artesanal mas intrincada engrenagem do moinho ? da qual fazem parte peças como a segurelha, a entrosga ou o cadelo ? é um deles.

Estes conhecimentos técnicos, que se alargavam a noções básicas de eólica e engenharia, bem como a pormenores de natureza física ? nomeadamente o entendimento da fricção e de todos os aspectos relacionados com o esmagamento dos cereais (incluindo noções geológicas para melhor escolher as pedras utilizadas na construção das mós) ?, aliados à simbologia própria dos moinhos terão contribuído para a imagem «mística» do moleiro: um engenheiro divino.

Os Moinhos de Santa Maria, são ao todo sete, três dos quais ainda se encontram em funcionamento. A construção de alguns remonta aos finais do século XVIII, e a de outros ao século XIX. A farinha moída nestes moinhos servia para a consumo do próprlo Moleiro até há bem pouco tempo, e era vendida, mas pouco a pouco, as pessoas foram deixando de ir buscar a farinha ao Moleiro.