HENNING MANKELL, escritor Euskal Herria, 2005
autor: Txomin  Txueka
título: "LITERAKTUM", Okendo Kultur Center exposição individual

HENNING MANKELL, escritor

Euskal Herria, 2005

Jose Antonio Maria Vaz, o "Cronista dos ventos"

Sobre um telhado de barro avermelhado queimado pelo sol, sob um céu estrelado tropical de uma noite de humidade sufocante, me encontro eu, de meu nome Jose Antonio Maria Vaz, à espera do fim do mundo. Sujo e febril, as roupas colantes, como se quisessem fugir do meu corpo magro, tenho os bolsos cheios de farinha, para mim mais preciosa que o ouro. Faz um ano eu era alguém, era um padeiro; visto que agora mais não sou que um mendigo que gasta os dias deambulando como a alma na dor sob o sol ardente e ao qual se vão aos noites no telhado de uma casa abandonada. Não obstante, até mesmo os mendigos têm sinais da identidade. Sinais que os distinguem de todos os outros que também estendem as suas mãos pelas esquinas, como se as quisessem dar, ou vender os seus dedos um a um. Jose Antonio Maria Vaz é o andrajoso também conhecido como o Cronista dos ventos. Dia e noite movem-se os meus lábios, sem pausa, como se estivesse narrando uma história que ninguém nunca teve paciência para escutar. Como se eu mesmo, finalmente, tivesse aceite que a monção que se aproxima do mar é, de facto, o meu único ouvinte sempre atento, o qual, com desejo paciente de velho sacerdote, espera que a confissão chegue um dia ao fim.

Eu, Jose Antonio Maria Vaz, um homem só sobre um telhado, sob um céu estrelado tropical, tenho uma história para contar...

Texto © HENNING MANKELL
Tradução: SOFIA QUINTAS