Nossa Senhora D'Aires 28-09-2003
autor: Sofia Quintas exposição individual

Nossa Senhora D'Aires

28-09-2003

Nossa Senhora d'Aires ? a Lenda e a Feira

Na área envolvente do Santuário de Nª Sra. d'Aires encontraram-se vestígios da civilização romana, falando-se de uma povoação de nome «Arês» ou «Ares». Antigamente, quando se fazia referência à Santa, escrevia-se Ares («ares de Santíssima Maria», etimologicamente) em vez de Aires. O nome atribuído à Santa pode ser consequência da localização do Santuário no local dessa possível povoação antiga designada «Arês».

Existem duas lendas contadas pelo povo. Uma que relata que naquela herdade, chamada dos Vaqueiros, morava um lavrador rico, supõe-se que Martim Vaqueiro, que possuía uma manada de bois. Na herdade existia um curral onde todas as noites os bois eram recolhidos. A certa altura os empregados do lavrador repararam que durante a noite os bois saiam do curral para irem pastar, mas que no outro dia de manhã estavam todos lá dentro, com a porta fechada. Foram então contar o mistério ao patrão que se dispôs a ir dormir uma noite à porta do curral. Nessa noite apareceu-lhe em sonhos Nª Senhora, que lhe disse que era Ela que abria a porta aos bois e que era de Sua vontade que fizessem naquele local uma casa de Deus e que para isso Ela própria o ajudaria. O lavrador tratou logo de juntar os materiais necessários para dar início à igreja e como era preciso muito dinheiro vendeu alguns dos seus bois. Porém, quando os voltou a contar, após a venda, tinha na manada a mesma conta, tendo sido um milagre de Nª Senhora.

O aparecimento da imagem da Senhora d'Aires também tem uma lenda, e encontra-se expressa numa inscrição na portada do Santuário. É um verso em latim, que relata que após a expulsão dos mouros destas terras, um lavrador arava o campo quando encontrou dentro de um pote de barro a imagem que se vê no altar. Sobre esta lenda, diz-se que a imagem foi descoberta por Martim Vaqueiro quando este lavrava o campo.

Em 1748, existindo em Évora uma enorme epidemia de peste, os comerciantes dessa cidade prometeram à Virgem Srª d?Aires uma festividade se a peste desaparecesse. Como tal se verificou, os comerciantes realizaram festas durante três dias em honra da Santa. No ano seguinte as festas foram ainda maiores, com afluência de devotos não só de Évora mas também das populações vizinhas. Já nesse ano se montaram em redor da igreja muitas barracas de géneros alimentícios e de olaria. As festividades tiveram grande incremento e as barracas de mercadores começaram a ser tantas, que o Senado Vianense obteve o alvará em 1751, que declarava que o mercado realizado junto à igreja fosse considerado feira franca. Esta realiza-se desde então todos os anos no quarto domingo de Setembro.

A fé popular é comprovada através da Casa dos Milagres, cujas paredes estão totalmente revestidas de ex-votos, constituindo um dos mais curiosos "museus" de arte popular do país, onde as pessoas colocam o pagamento das suas promessas à Protectora. Destacam-se os ex-votos mais antigos, que são criações populares pintadas sobre tábua, tela e chapa cúprica, datando o mais antigo de 1735.

Actualmente os ex-votos assumem a forma de fotografias, figuras de cera, bordados, painéis de azulejo, vestidos e bouquets de noivas, etc.. Todos os crentes da Santa, espalhados pelo país inteiro, que se deslocam a Viana do Alentejo essencialmente na altura da feira, depositam aqui os pagamentos das promessas e agradecimentos a Nª Senhora d'Aires.

Texto: Sofia Quintas